Nossa professora solidária Paula Maria J Peniche deu-nos a sua opinião sobre o Ideb e prova Brasil, veja abaixo
Susana, durante minha vida de Educadora, vi muita coisa, linhas pedagógicas diferentes, propostas inovadoras, vi muita gente confundindo métodos e práticas educacionais com teorias educacionais, etc, etc.
Enfim a Bola de Neve rolou e, parece que não vai parar por aí.
Venho de um tempo em que os professores eram estimulados a ensinar a pensar, e assim fazíamos, muito texto com interpretação oral e em seguida escrita, primeiro passo para uma boa produção de texto.
Na minha concepção e entendimento, quem não lê e não interpreta não produz. Nunca esquecerei um aluno de dois palmos de altura, numa das minhas primeiras séries, E.K., um japonezinho danado... Dei um texto para interpretarem, "A bola maluca", li o texto para eles, em
seguida leram em grupo, nunca faço leitura individual porque o tiro sai pela culatra, muitos se envergonham e travam.
Bom, em seguida conversamos sobre o texto que falava que a bola bateu no pato e o pato ficou bravo, depois bateu noutro bicho e assim por diante. Na interpretação escrita, de início, sempre colocava perguntas de busca no texto e para finalizar uma pergunta de cunho pessoal onde a resposta era individual, um trabalhão na correção, uma um.
Bem, cada qual deu sua resposta, e o meu objetivo era observar a coesão e a coerência da escrita espontânea dos pequenos. A pergunta era: *Se você fosse o autor, que outro título daria ao texto.* Sem a menor sombra de dúvida ele respondeu: "A bola que enche o saco." Até hoje dou risada da inocência, da criatividade e da verdade ali escrita.
As irmãs do colégio queriam que eu considerasse errado, queriam um corretivo e mil maneiras para matar a criatividade do menininho, até a coordenadora quis fazer média com as freiras.
Briguei, e não fiz nada do que pediram, dei um certo enorme, em vermelho, com uma estrelinha na ponta.
Hoje cara amiga, vejo essas provas do governo como retrocesso, sou obrigada a ir contra meus princípios, ensinar a interpretar respostas prontas, treinar a colocar X. Pior, preparar simulados para treino do X ... Me envergonho de saber ser avaliada porque meus alunos sabem colocar um X no quadradinho certo.
Para mim isso tudo é muito doloroso.
Beijos
Tia Paula
Paula, querida, você fez com que eu lembrasse de Paulo Freire, quando um general lhe perguntou se ele era subversivo, ele simplesmente respondeu assim para surpresa do general: "Eu sou subversivo, eu subverto a ordem injusta"
Susana Felix
Owner do Grupo Professores Solidários
Sem comentários:
Enviar um comentário