A família se recusa a comparecer na escola, visto que sempre é chamada para ouvir reclamações por parte da direção.
Embora algumas vezes demonstre agressividade com os amigos e, até mesmo comigo, quando solicitado está pronto a auxiliar no que for preciso, me abraça e utiliza palavras carinhosas sempre que permitida uma aproximação.
Em outros momentos, normalmente de conflitos em sala, grita com todos, não consegue ouvir o que temos para lhe dizer, retrucando tudo o que estamos tentando falar.
Me sinto cansada e frustrada por não conseguir falar com ele.
Os outros alunos ficam indignados com as respostas que ele me dá e, cobram uma postura de punição, visto que percebem sua falta de respeito com a professora.
Respirei fundo e falei para ele que hoje conversaríamos, que eu iria pensar muito sobre tudo o que aconteceu e decidiria o que faria com ele.
Concluindo, queria algo que o fizesse pensar sobre suas atitudes com os amigos, pois chama os pequenos de gay, uma amiga de carrapato, bate em outros amigos e sempre se utiliza da desculpa ”Eles me irritam”, como se os amigos perseguissem ele, mas não é isso o que eu observo. Vejo que ele quer se utilizar de sua força e seu tamanho para
intimidar os amigos.
A família, se chamada, não comparecerá na escola. A direção, não tem nenhum tipo de trabalho educacional, onde poderia realizar algo que fizesse o aluno refletir sobre suas posturas.
Sugestão 1
Quando cheguei na sala, em meu primeiro dia com eles, a professora que foi apresentar-me, disse logo de cara: Aquele ali, não tem jeito não. É levado, malcriado, brigão. Tem que ficar de mãos dadas com você na hora o recreio, porque arruma logo confusão. Não deixe ele sair de perto de você por nada.
Eu, de cara séria, olhava de vez em quando para ele e sentia a humilhação que a criança estava passando. Não dei uma palavra sobre o assunto e comecei a minha conversa com a turma.
Logo ele levantou e veio pedir para ir ao banheiro. Claro que deixei. E se ele quisesse chorar como eu ia querer, diante de tantas coisas ruins ditas. Ou ele podia querer respirar lá fora, ver o verde das árvores, sei lá. Só sei que nunca neguei o direito deles irem a hora que pedissem. A diretora tinha vontade de estrangular meu pescoço, mas nem ligava.
Aos poucos fui começando a procurar enxergar o ser humano e sempre questionando se daria tempo para que eu fizesse algo por ele. Duas vezes por semana ou até três, mandava sair para o recreio de dois em dois, só para que ele ficasse por último e então eu o chamava para perto de mim, abaixava na sua altura e carinhosamente falava com ele: Querido, vai pro recreio e mostra para todos da escola que você não precisa ficar igual neném de mãos dadas comigo, porque você sabe brincar e tomar conta dos menores. Eu confio em você porque você é meu príncipe.
Ele nunca ficou sem recreio e nunca fiquei tomando conta dele. O povo da escola dizia que eu botava maracujina para ele beber. O pessoal sabia do grande carinho que sentia por ele e nunca conseguiram dar uma bronca nele, porque sempre que aprontava ele mesmo chegava perto e falava assim: Tia, aconteceu isso e quem começou foi seu príncipe.
Só podia falar para ele, peça desculpas pro amigo e vá brincar. Porque meu acordo com eles era que sempre teriam que falar a verdade porque eu não poderia zangar. Mas se falassem mentira e eu descobrisse, a zanga seria enorme.
Sempre que ele falava que não era o culpado, deixava apassar e ia procurar saber por outras pessoas e sempre o que ele havia dito era a verdade.
Um dia ele teve um ataque de raiva, contra o colega da sala. Segurei-o pelo ombro e fiz com que sentasse. Pedi a ele que respirasse fundo até a raiva passar, isso tudo sem saber se daria certo. E deu certo. Desse dia em diante, sempre que ele pensava em começar uma confusão, eu só falava assim: Matheus, está precisando praticar a respiração para não piorar. Tadinho, ele respirava fundo diversas vezes e dizia depois, Tia já estou bem melhor.
Sempre que tinha oportunidade, ficava abraçada com ele, acariciando as costas dele e falando bem baixinho o quanto ele era importante para mim. Tudo isso, foi criando um elo enorme entre nós.
Resolvi pesquisar a vida dele. Chorei diversas vezes com tudo que vinha de informação. Ele tinha que ser violento mesmo, porque sofria demais. Ouviu diversas vezes a mãe dizer que ele devia era morrer. Isso quando ele estava no auge de uma crise de bronquite e ela não conseguia dormir.
Colocou o menino para dormir na casa da madrasta dela, onde ele não podia abrir armário, geladeira. O prato dele nunca via uma carne, um ovo. Nada disso. O irmão mais novo, tinha pai. Ele nunca soube quem era o pai dele.
O pai do irmão, ia à escola buscar o filho de carro, de vez em quando. Ele ia de ônibus, para o mesmo endereço. O irmão ia agasalhado. Ele de chinelo de dedo e camiseta.
Fiquei com esta turma três anos, graças a Deus pude levar o aluno até o 5º ano.
Nesses três anos, ele nunca ficou sem recreio. E quando ele se despediu de mim, meu pensamento foi que tinha certeza que havia feito algo por aquela criança. E se eu tivesse pensado que era mais um e que não iria valer a pena qqer esforço? Graças a Deus, tudo que fiz, valeu e muito. Me bateu uma saudade dele agora.......
Então, olhe para dentro da criança e enxergue o ser humano. Pensa que esse aluno, foi Deus quem colocou na sua vida, para saber se vocE é capaz de lidar com o diferente.
Bjs e continue enxergando o ser humano que cada aluno representa. É fácil dar aulas e conviver com os bonitinhos e educadinhos. Isso é fácil demais. mas nossa jornada é de desafios.
PS. Vou preservar o nome do aluno e das professoras para que não façam correlação nas escolas. No entanto, essa é uma história que ocorre em muitas escolas.
Nossa amei essa sujestão não pude conter as lágrimas antes mesmo do fim do texto, eu também penso desta forma que alunos que são considerados indisciplinados na verdade são carentes de afeto e atenção,estou montando o meu tcc sobre indisciplina em sala de aula de 1° a 5° ano se tiver algum material pra me indicar eu agradeço.
ResponderEliminarOi, querida, eu tenho sugestões sim, escreva pra mim que eu te mando, susanafleite@gmail.com
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