sábado, 2 de agosto de 2014

Pnaic Matemática, sugestão: A Nova Aritmética da Emília

Aritmética da Emília é um livro infantil escrito por Monteiro Lobato e publicado em 1935. A obra foi Reeditada em 1947 com ilustrações do artista haitiano André Le Blanc, ganha agora sua edição comentada, pois apesar da matemática continuar a mesma, o método ensinado nas escolas sofreu mudanças. A nova edição da Aritmética da Emília foi ilustrada por Osnei e Hector Gómez e está de acordo com a nova ortografia da Língua Portuguesa.
Na história, Monteiro Lobato consegue transformar uma matéria tão árida como a Aritmética em uma linda brincadeira no pomar, onde o quadro-negro em que faziam contas era o couro do Quindim.
Neste livro, as crianças aprendem sobre números decimais, frações, como transformar frações em números decimais, soma, subtração, multiplicação de números decimais, frações e números mistos e comuns. Aprendem também sobre o mínimo múltiplo comum, números romanos, quantidades, dinheiros antigos e de outros países, de onde vieram os números 1, 2, 3..., números complexos como raiz quadrada, entre outros.
É um livro indicado para todas as idades, além de ser uma fonte de informação divertida e prazerosa. Nesta obra Monteiro Lobato transformou a matemática numa divertida brincadeira onde qualquer um, criança ou adulto, terá prazer em aprender.
Leia abaixo uma das histórias do livro:

Emília estava arrumando o cuco na sala da casa do sítio, quando percebeu uns vultos estranhos espiando pela janela da sala. Ouviu uns pequenos assobios, como se fossem sinais combinados ruídos de algo rastejando e barulhos de pequenos passos. Enquanto ela procurava os números iam fugindo: das teclas do telefone, de dentro dos livros, dos canais de televisão, etc...

EMÍLIA:-“Ué!! Tem algo muito estranho acontecendo aqui ... Isso não está me cheirando bem... Tem alguém aí?  Não gosto dessas brincadeiras de xeretar e esconder para dar susto, não ! Pode tratar de ir aparecendo já, já, já...

Emília subiu novamente no banquinho e ia continuar a arrumar o cuco quando os números pularam sobre ela saindo do painel do relógio, derrubaram-na do banquinho e saíram correndo em direção a porta onde um grupo enorme de números já os esperava.

EMÍLIA:-“Uai !!! Uai UI! UI! Que maluquice é essa?! Voltem já aqui seus atrevidos! Onde é que vocês pensam que vão? Voltem já aqui !! Eu vou pegar todo mundo! Parados!!”
Emília encontrou todo mundo do sítio cuidando do Visconde que sofria de uma forte crise de reumatismo.

VISCONDE:-“Meu Deus!! Há muito não sentia uma dor dessas. Está muito difícil para eu andar, quase não consigo me mexer...”

DONA BENTA:-“Pobrezinho do Visconde, nós precisamos ajudá-lo, estou morrendo de pena...”

TIA NASTÁCIA:-“Cruz credo! Cada coisa mais esquisita que acontece por aqui ... onde já se viu sabugo com reumatismo... ainda por cima gritando de dor... Minha Nossa Senhora, estas coisas ainda não vão acabar bem . Cruz credo...!”

PEDRINHO:-“Fique calmo, Visconde isso passa já! Nós vamos fazer um carrinho para você poder andar pelo sítio “

NARIZINHO:-“Já sei ! Tem umas madeiras lá perto do barracão só não tem rodinhas para colocar nelas ...”

PEDRINHO:-“Não tem problemas! Pegamos umas batatas-doces e fazemos umas rodinhas bem redondas com elas.”

MARQUÊS DE RABICÓ:-“Comer o carrinho inteiro não é negócio, mas essas quatro rodinhas vão acabar no meu papo!”
Emília chegou correndo assustando a todos.

EMÍLIA:Pessoal! Pessoal! Aconteceu! Aconteceu!”

NARIZINHO:-“Não grite tanto, o coitadinho do visconde está morrendo de dor de reumatismo e com seus gritos ele se assusta e treme inteirinho...”

PEDRINHO:-“Aconteceu o quê Emília?”

EMÍLIA:-“Eu estava na sala arranjando aquele preguiçoso do cuco, quando algumas coisas estranhas começaram a acontecer. Primeiro uns vultinhos depois uns barulhinhos... Eu fui ver e até pensei em reinações de algum atrevido aqui do sítio xeretando a sala. Quando voltei para o cuco preguiçoso aquela “numeração” pulou em cima de mim e saiu correndo com um monte de outros números, foram se embrenhar lá no bosque. Os números fugiram!”

DONA BENTA:-“Que é isso Emília ! Onde já se viu números saírem correndo por aí...Que história é essa?”

NARIZINHO:-“Na certa, vovó, essa danada aprontou mais uma de suas maluquices e agora vem inventar uma desculpa sem pé nem cabeça..”

EMÍLIA:-“Ora bolas! Eu bem que sei o que aconteceu. Eu não sou mentirosa! Se estou falando que eles fugiram é porque eles fugiram mesmo! E pronto!”

Quindim apareceu na janela com uma cara apavorada e gritou para o grupo:
QUINDIM:-“Venham todos! Venham ver a TV! O mundo virou uma bagunça enorme! Os números estão fugindo de todos os lugares! É uma grande rebelião! Corram venham ver!”
Todos correram para a sala e sentaram em frente a TV para ver o noticiário onde o repórter apresentava o caos gerado pela ausência de números no mundo inteiro. Os elevadores não paravam nos andares, as compras não podiam ser feitas porque as notas não tinham numero, as balanças não marcavam o peso, era impossível saber as quantidades, os aviões não sabiam sua altura –não podiam pousar nem decolar- os relógios não marcavam mais o tempo, o caos era total!

REPÓRTER:-“Uma grande confusão está acontecendo no mundo. Sem qualquer explicação os números fugiram de suas posições e nada mais funciona direito. Esta revolta inesperada está gerando um verdadeiro caos em todas as partes do mundo. Não há nenhuma explicação para este fenômeno. Cientistas de todas as partes estão tentando encontrar uma solução para o problema. Não há nenhuma pista de para onde foram os números!”

EMÍLIA:-“Eles não sabem mas eu sei!”

NARIZINHO:-“Isto está parecendo reinação dessa danada. O que é que você fez com os números?”

DONA BENTA:-“Esta situação é delicadíssima. Pelo jeito é um caos total. Todo mundo será prejudicado por esta falta de números. Emília, se você tem algo a ver com isso é bom que diga logo para encerrar esta balburdia mundial!”

EMÍLIA:-“Será possível que ninguém entende o que eu estou falando? A numerada toda fugiu. Chispou! Es-ca-fe-deu-se! Na certa cansaram dessa prisão numérica e foram tomar ares de liberdade. Mas eu sei onde eles foram se esconder...”

VISCONDE:-“Então fale, criatura! Pois assim poderemos entender o que aconteceu e devolver os números a seus respectivos lugares.”

EMÍLIA:-“A numerada toda foi se esconder lá no bosque, e se escondeu muito bem escondido. Uma coisa é achá-los, outra vai ser trazê-los de volta. Aí a porca vai torcer o rabo!”
Todos foram para a biblioteca com o Visconde para pesquisar sobre os números.

VISCONDE:-“Hum! Hum! Heureca! Heureca!”

EMÍLIA:-“O Visconde achou! O Visconde achou!”

PEDRINHO:-“O que é que achou? Quem acha, acha alguma coisa. Afinal o que é que o Visconde achou?”

EMÍLIA:-“Não sei. Achou, só. “Heureca!”é uma palavra grega que quer dizer achei. Logo, ele achou!”

VISCONDE:-“Emília tem razão. Achei uma linda terra que precisamos visitar: O País da Matemática! Na verdade nos precisamos entender bem toda a história dos números, como ele se comportam, para podermos trazê-los de volta. Só assim acabaremos com esse caos da falta de números! Eu proponho que às sete horas de amanhã nós saiamos em busca do país da Matemática!”

TODOS:-“VIVA! Viva o país da Matemática! Viva o Visconde!”

TIA NASTÁCIA:-“Ué?? Mas como é que vocês vão saber que horas são se o relógio não tem mais os números dentro dele?”

EMÍLIA:-“Bem pensado! Temos um problema imediato: como marcar a hora sem relógios?”

VISCONDE:-“Esta é uma questão pertinente. Temos solução para este problema: nem sempre a humanidade usou o relógio para marcar o tempo. Antes do relógio como nos o conhecemos hoje, era possível saber as horas usando outras maneiras.”

EMÍLIA:-“Muito sabido! Então trate de mostrar logo como são esses tais relógios desnumerados para podermos saber que horas são!”

VISCONDE:-“Venha todos ver este livro, muito interessante, que nos ensina essas várias maneiras.”
Depois de ver o livro, a turma foi se preparar para a viagem.

NARIZINHO:-“Olhem! Lá vem a Emília com uma ampulheta enorme!”

EMÍLIA:-“De todas essas coisas a que eu mais gostei foi essa ampulheta. Fui buscar uma bem grandona para ninguém reclamar que não enxerga.”

RABICÓ:-“Óinc! Óinc! O que é isso aqui? Parece uma portinha. Vou entrar e comer todo esse fubá aí dentro!”

EMÍLIA:-“Não, Rabicó! Não abra! Não, Rabicó!”
Ao abrir a ampulheta formou-se um grande redemoinho que sugou todos para dentro. Eles foram voando, voando até chegar no centro do coliseu, em Roma antiga! E foram parar bem no meio dos leões e de uma corrida de bigas!”

TIA NASTÁCIA:-“Uai! Uai! Deus nos acuda as onças voltaram! É um ataque! Cruz Credo! Cadê as pernas de pau? Socorro!”

EMÍLIA:-“Xô! Passa! Fora, seu gato crescido!”

PEDRINHO:-“Vamos sair daqui rápido! Todos correndo comigo! Vamos! Rápido! Corram!”
A turma foi correndo até chegar na galeria do Coliseu, onde tudo parecia estar um pouco mais tranqüilo.

VISCONDE:-“De alguma forma quando Rabicó abriu a ampulheta nós fomos trazidos até Roma! Fantástico! Agora poderemos aprender tudo sobre os algarismos romanos e levá-los de volta!”

NARIZINHO:-“Boa idéia, Visconde! Mas como vamos saber sobre esses algarismos?”
VISCONDE:-“Por sorte veio comigo, aqui no carrinho, aquele livro sobre o país da Matemática. Vejamos.”

EMÍLIA:-“Olha lá! Os pestes dos números! Vamos pegá-los!”
Depois de muito trabalho, a turma decidiu voltar.

VISCONDE:-“Muito bem Emília! Creio que já tenhamos capturado todos. Valeu o esforço. Agora precisamos levá-los de volta.”

EMÍLIA:-“Comigo ninguém brinca! Vou guardar vocês lá no cuco, muito bem grudados!”
PEDRINHO:-“Rabicó,traga a ampulheta para podermos voltar! Corra antes que um leão te coma!”
VISCONDE:-“Ufa! Eu já não estava mais aguentando aquele terrível calor. Vamos ver o livro e o que descobrimos dos algarismos arábicos.”
Algum tempo depois, já haviam capturado também os números arábico.

VISCONDE:-“Finalmente! Agora todos estão devidamente capturados. Missão cumprida! De volta ao sítio!”
De volta ao sítio, com os números devidamente capturados, eles precisavam pensar como devolvê-los a suas posições.

NARIZINHO:-“Bem, acredito que conseguimos resolver todo o problema. Agora é só devolver os números para seus lugares e tudo voltará ao normal.”

DONA BENTA:-“Foi a aventura mais maluca em que nós já nos metemos. Leões, camelos, gladiadores... Meu Deus do Céu! Ainda bem que todos voltamos sãos e salvos, Graças a Deus!”

EMÍLIA:-“É, tudo certo menos por uma coisa: Essa numerada toda esta aí sem ter o que fazer ...”
VISCONDE:-“Você poderia ser mais clara? Não estou entendendo onde você quer chegar.”
EMÍLIA:-“Pois bem , eu explico. Números sem o que eles representam não valem nada. O que é dez? Doze o quê? Então tem mais alguma coisa que sumiu junto e nós ainda não fomos buscar! É bom o sabichão do Visconde tratar de procurar nesses seus livros que têm remédio para tudo a resposta para esse sumiço.”

VISCONDE:-“Me parece que Emília tem razão. Os números sozinhos nada significam. É necessário que eles estejam associados as grandezas que representam. De fato dez não é nada, mas dez litros é muita água para beber e quase nada no rio, dez metros é uma pequena distância e dez quilômetros já é algo mais distante. Precisamos agora recuperar todas as medidas de grandeza para associá-las aos números. Só então poderemos considerar a missão terminada.”

VISCONDE:-“Gostaria muito de convidá-los para ir até um circo que acabei de montar. É o “Grande Circo Matemático”. Lá nós teremos a prova definitiva de que eles estão aptos a desempenhar suas funções!”

EMÍLIA:-“Eu vou mas com uma condição: tem que ter um palhaço! Circo sem palhaço não é circo que se preze. E sem palhaço eu não vou!”

VISCONDE:-“Muito bem, eu peço ao senhor Quindim que nos ajude a desempenhar esta nobre função circense.”

PEDRINHO:-“Na falta de roupa que caiba no “Boi da África” vai este chapeuzinho pontudo!”
Após a folia no circo, a turma voltou ao sítio para ver as notícias na TV a respeito do fim da rebelião dos números.

DONA BENTA:-“Que livro incrível. Este árabe sabia tantas coisas interessantes a respeito dos números!”

EMÍLIA:-“Acho que ninguém vai escrever um livro chamado “O sabugo que calculava” e duvido, Du-vi-de-o-dó que o senhor Visconde resolva este problema: Um homem andando pela rua encontrou 10 tocos de lápis. Com cada três tocos de lápis ele forma um lápis e usa até ficar com um toco na mão. Quantos lápis ele usou?”

VISCONDE:-“Nada mais simples! Formou três lápis e sobrou um toco de lápis!”
EMÍLIA:-“Está enganado! Formou cinco lápis!”

VISCONDE:-“Como? Não é possível...”

EMÍLIA:-“Nada mais simples! Com os dez tocos de lápis achados na rua ele formou três lápis e consumiu-os e ficou com mais três tocos de lápis que juntados ao que sobrou deu quatro tocos de lápis. Com esses quatro tocos de lápis formou mais um lápis e sobrou mais um toco de lápis. Consumiu o lápis e ficou com mais um toco de lápis e portanto ficou com dois tocos de lápis. Pediu então emprestado para um amigo mais um toco de lápis e formou mais um lápis que consumiu. O quinto lápis! Portanto consumiu cinco lápis! Temos aqui, portanto, cinco lápis formados com os dez tocos de lápis achados e não três como o senhor disse! Ahn!...”

VISCONDE:-“Está errado! Porque se ele usou este quinto lápis, sobrou um toco de lápis!”
EMÍLIA:-“Não sobrou coisíssima nenhuma! Como havia tomado de empréstimo um toco de lápis novo, pagou a dívida com o último toco de lápis sobrado! Ahn!...”

No meio da confusão, Emília pegou o livro manuscrito do Visconde: “ARITMÉTICA DO VISCONDE” , cortou o T e pôs seu nome: “ARIMETICA DO VISCONDE DA EMÍLIA”

FIM 

Sem comentários:

Enviar um comentário