Aritmética da Emília é um livro
infantil escrito por Monteiro Lobato e publicado em 1935. A obra foi Reeditada
em 1947 com ilustrações do artista haitiano André Le Blanc, ganha
agora sua edição comentada, pois apesar da matemática continuar a mesma, o
método ensinado nas escolas sofreu mudanças. A nova edição da Aritmética da
Emília foi ilustrada por Osnei e Hector Gómez e está de acordo com a nova
ortografia da Língua Portuguesa.
Na história, Monteiro
Lobato consegue transformar uma matéria tão árida como a Aritmética em uma
linda brincadeira no pomar, onde o quadro-negro em que faziam contas era o
couro do Quindim.
Neste livro, as
crianças aprendem sobre números decimais, frações, como transformar frações em
números decimais, soma, subtração, multiplicação de números decimais, frações e
números mistos e comuns. Aprendem também sobre o mínimo múltiplo comum, números
romanos, quantidades, dinheiros antigos e de outros países, de onde vieram os
números 1, 2, 3..., números complexos como raiz quadrada, entre outros.
É um livro indicado para todas as
idades, além de ser uma fonte de informação divertida e prazerosa. Nesta obra
Monteiro Lobato transformou a matemática numa divertida brincadeira onde
qualquer um, criança ou adulto, terá prazer em aprender.
Leia abaixo uma das histórias do livro:
Emília estava arrumando o
cuco na sala da casa do sítio, quando percebeu uns vultos estranhos espiando
pela janela da sala. Ouviu uns pequenos assobios, como se fossem sinais
combinados ruídos de algo rastejando e barulhos de pequenos passos. Enquanto ela
procurava os números iam fugindo: das teclas do telefone, de dentro dos livros,
dos canais de televisão, etc...
EMÍLIA:-“Ué!!
Tem algo muito estranho acontecendo aqui ... Isso não está me cheirando bem...
Tem alguém aí? Não gosto dessas
brincadeiras de xeretar e esconder para dar susto, não ! Pode tratar de ir
aparecendo já, já, já...
Emília subiu novamente no
banquinho e ia continuar a arrumar o cuco quando os números pularam sobre ela
saindo do painel do relógio, derrubaram-na do banquinho e saíram correndo em
direção a porta onde um grupo enorme de números já os esperava.
EMÍLIA:-“Uai
!!! Uai UI! UI! Que maluquice é essa?! Voltem já aqui seus atrevidos! Onde é
que vocês pensam que vão? Voltem já aqui !! Eu vou pegar todo mundo! Parados!!”
Emília encontrou todo mundo
do sítio cuidando do Visconde que sofria de uma forte crise de reumatismo.
VISCONDE:-“Meu
Deus!! Há muito não sentia uma dor dessas. Está muito difícil para eu andar,
quase não consigo me mexer...”
DONA
BENTA:-“Pobrezinho do Visconde, nós precisamos ajudá-lo, estou
morrendo de pena...”
TIA
NASTÁCIA:-“Cruz credo! Cada coisa mais esquisita que acontece por
aqui ... onde já se viu sabugo com reumatismo... ainda por cima gritando de
dor... Minha Nossa Senhora, estas coisas ainda não vão acabar bem . Cruz
credo...!”
PEDRINHO:-“Fique
calmo, Visconde isso passa já! Nós vamos fazer um carrinho para você poder
andar pelo sítio “
NARIZINHO:-“Já
sei ! Tem umas madeiras lá perto do barracão só não tem rodinhas para colocar
nelas ...”
PEDRINHO:-“Não tem problemas! Pegamos umas
batatas-doces e fazemos umas rodinhas bem redondas com elas.”
MARQUÊS
DE RABICÓ:-“Comer o carrinho inteiro não é negócio, mas essas
quatro rodinhas vão acabar no meu papo!”
Emília chegou correndo
assustando a todos.
EMÍLIA:Pessoal!
Pessoal! Aconteceu! Aconteceu!”
NARIZINHO:-“Não
grite tanto, o coitadinho do visconde está morrendo de dor de reumatismo e com
seus gritos ele se assusta e treme inteirinho...”
PEDRINHO:-“Aconteceu
o quê Emília?”
EMÍLIA:-“Eu
estava na sala arranjando aquele preguiçoso do cuco, quando algumas coisas
estranhas começaram a acontecer. Primeiro uns vultinhos depois uns
barulhinhos... Eu fui ver e até pensei em reinações de algum atrevido aqui do
sítio xeretando a sala. Quando voltei para o cuco preguiçoso aquela “numeração”
pulou em cima de mim e saiu correndo com um monte de outros números, foram se
embrenhar lá no bosque. Os números fugiram!”
DONA
BENTA:-“Que é isso Emília ! Onde já se viu números saírem
correndo por aí...Que história é essa?”
NARIZINHO:-“Na
certa, vovó, essa danada aprontou mais uma de suas maluquices e agora vem
inventar uma desculpa sem pé nem cabeça..”
EMÍLIA:-“Ora
bolas! Eu bem que sei o que aconteceu. Eu não sou mentirosa! Se estou falando
que eles fugiram é porque eles fugiram mesmo! E pronto!”
Quindim apareceu na janela
com uma cara apavorada e gritou para o grupo:
QUINDIM:-“Venham
todos! Venham ver a TV! O mundo virou uma bagunça enorme! Os números estão
fugindo de todos os lugares! É uma grande rebelião! Corram venham ver!”
Todos correram para a sala e
sentaram em frente a TV para ver o noticiário onde o repórter apresentava o
caos gerado pela ausência de números no mundo inteiro. Os elevadores não
paravam nos andares, as compras não podiam ser feitas porque as notas não
tinham numero, as balanças não marcavam o peso, era impossível saber as
quantidades, os aviões não sabiam sua altura –não podiam pousar nem decolar- os
relógios não marcavam mais o tempo, o caos era total!
REPÓRTER:-“Uma
grande confusão está acontecendo no mundo. Sem qualquer explicação os números
fugiram de suas posições e nada mais funciona direito. Esta revolta inesperada está
gerando um verdadeiro caos em todas as partes do mundo. Não há nenhuma
explicação para este fenômeno. Cientistas de todas as partes estão tentando
encontrar uma solução para o problema. Não há nenhuma pista de para onde foram
os números!”
EMÍLIA:-“Eles
não sabem mas eu sei!”
NARIZINHO:-“Isto
está parecendo reinação dessa danada. O que é que você fez com os números?”
DONA
BENTA:-“Esta situação é delicadíssima. Pelo jeito é um caos
total. Todo mundo será prejudicado por esta falta de números. Emília, se você
tem algo a ver com isso é bom que diga logo para encerrar esta balburdia
mundial!”
EMÍLIA:-“Será
possível que ninguém entende o que eu estou falando? A numerada toda fugiu.
Chispou! Es-ca-fe-deu-se! Na certa cansaram dessa prisão numérica e foram tomar
ares de liberdade. Mas eu sei onde eles foram se esconder...”
VISCONDE:-“Então
fale, criatura! Pois assim poderemos entender o que aconteceu e devolver os
números a seus respectivos lugares.”
EMÍLIA:-“A
numerada toda foi se esconder lá no bosque, e se escondeu muito bem escondido.
Uma coisa é achá-los, outra vai ser trazê-los de volta. Aí a porca vai torcer o
rabo!”
Todos foram para a
biblioteca com o Visconde para pesquisar sobre os números.
VISCONDE:-“Hum!
Hum! Heureca! Heureca!”
EMÍLIA:-“O
Visconde achou! O Visconde achou!”
PEDRINHO:-“O
que é que achou? Quem acha, acha alguma coisa. Afinal o que é que o Visconde
achou?”
EMÍLIA:-“Não
sei. Achou, só. “Heureca!”é uma palavra grega que quer dizer achei. Logo, ele
achou!”
VISCONDE:-“Emília
tem razão. Achei uma linda terra que precisamos visitar: O País da Matemática!
Na verdade nos precisamos entender bem toda a história dos números, como ele se
comportam, para podermos trazê-los de volta. Só assim acabaremos com esse caos
da falta de números! Eu proponho que às sete horas de amanhã nós saiamos em
busca do país da Matemática!”
TODOS:-“VIVA!
Viva o país da Matemática! Viva o Visconde!”
TIA
NASTÁCIA:-“Ué?? Mas como é que vocês vão saber que horas são se o
relógio não tem mais os números dentro dele?”
EMÍLIA:-“Bem
pensado! Temos um problema imediato: como marcar a hora sem relógios?”
VISCONDE:-“Esta
é uma questão pertinente. Temos solução para este problema: nem sempre a
humanidade usou o relógio para marcar o tempo. Antes do relógio como nos o
conhecemos hoje, era possível saber as horas usando outras maneiras.”
EMÍLIA:-“Muito
sabido! Então trate de mostrar logo como são esses tais relógios desnumerados para
podermos saber que horas são!”
VISCONDE:-“Venha
todos ver este livro, muito interessante, que nos ensina essas várias
maneiras.”
Depois de ver o livro, a
turma foi se preparar para a viagem.
NARIZINHO:-“Olhem!
Lá vem a Emília com uma ampulheta enorme!”
EMÍLIA:-“De
todas essas coisas a que eu mais gostei foi essa ampulheta. Fui buscar uma bem
grandona para ninguém reclamar que não enxerga.”
RABICÓ:-“Óinc!
Óinc! O que é isso aqui? Parece uma portinha. Vou entrar e comer todo esse fubá
aí dentro!”
EMÍLIA:-“Não,
Rabicó! Não abra! Não, Rabicó!”
Ao abrir a ampulheta
formou-se um grande redemoinho que sugou todos para dentro. Eles foram voando,
voando até chegar no centro do coliseu, em Roma antiga! E foram parar bem no
meio dos leões e de uma corrida de bigas!”
TIA
NASTÁCIA:-“Uai! Uai! Deus nos acuda as onças voltaram! É um
ataque! Cruz Credo! Cadê as pernas de pau? Socorro!”
EMÍLIA:-“Xô!
Passa! Fora, seu gato crescido!”
PEDRINHO:-“Vamos
sair daqui rápido! Todos correndo comigo! Vamos! Rápido! Corram!”
A turma foi correndo até
chegar na galeria do Coliseu, onde tudo parecia estar um pouco mais tranqüilo.
VISCONDE:-“De
alguma forma quando Rabicó abriu a ampulheta nós fomos trazidos até Roma!
Fantástico! Agora poderemos aprender tudo sobre os algarismos romanos e
levá-los de volta!”
NARIZINHO:-“Boa
idéia, Visconde! Mas como vamos saber sobre esses algarismos?”
VISCONDE:-“Por
sorte veio comigo, aqui no carrinho, aquele livro sobre o país da Matemática.
Vejamos.”
EMÍLIA:-“Olha
lá! Os pestes dos números! Vamos pegá-los!”
Depois de muito trabalho, a
turma decidiu voltar.
VISCONDE:-“Muito
bem Emília! Creio que já tenhamos capturado todos. Valeu o esforço. Agora
precisamos levá-los de volta.”
EMÍLIA:-“Comigo
ninguém brinca! Vou guardar vocês lá no cuco, muito bem grudados!”
PEDRINHO:-“Rabicó,traga
a ampulheta para podermos voltar! Corra antes que um leão te coma!”
VISCONDE:-“Ufa!
Eu já não estava mais aguentando aquele terrível calor. Vamos ver o livro e o
que descobrimos dos algarismos arábicos.”
Algum tempo depois, já
haviam capturado também os números arábico.
VISCONDE:-“Finalmente!
Agora todos estão devidamente capturados. Missão cumprida! De volta ao sítio!”
De volta ao sítio, com os
números devidamente capturados, eles precisavam pensar como devolvê-los a suas posições.
NARIZINHO:-“Bem,
acredito que conseguimos resolver todo o problema. Agora é só devolver os
números para seus lugares e tudo voltará ao normal.”
DONA
BENTA:-“Foi a aventura mais maluca em que nós já nos metemos.
Leões, camelos, gladiadores... Meu Deus do Céu! Ainda bem que todos voltamos
sãos e salvos, Graças a Deus!”
EMÍLIA:-“É,
tudo certo menos por uma coisa: Essa numerada toda esta aí sem ter o que fazer
...”
VISCONDE:-“Você
poderia ser mais clara? Não estou entendendo onde você quer chegar.”
EMÍLIA:-“Pois
bem , eu explico. Números sem o que eles representam não valem nada. O que é
dez? Doze o quê? Então tem mais alguma coisa que sumiu junto e nós ainda não
fomos buscar! É bom o sabichão do Visconde tratar de procurar nesses seus
livros que têm remédio para tudo a resposta para esse sumiço.”
VISCONDE:-“Me
parece que Emília tem razão. Os números sozinhos nada significam. É necessário
que eles estejam associados as grandezas que representam. De fato dez não é
nada, mas dez litros é muita água para beber e quase nada no rio, dez metros é
uma pequena distância e dez quilômetros já é algo mais distante. Precisamos
agora recuperar todas as medidas de grandeza para associá-las aos números. Só
então poderemos considerar a missão terminada.”
VISCONDE:-“Gostaria
muito de convidá-los para ir até um circo que acabei de montar. É o “Grande
Circo Matemático”. Lá nós teremos a prova definitiva de que eles estão aptos a
desempenhar suas funções!”
EMÍLIA:-“Eu
vou mas com uma condição: tem que ter um palhaço! Circo sem palhaço não é circo
que se preze. E sem palhaço eu não vou!”
VISCONDE:-“Muito
bem, eu peço ao senhor Quindim que nos ajude a desempenhar esta nobre função
circense.”
PEDRINHO:-“Na
falta de roupa que caiba no “Boi da África” vai este chapeuzinho pontudo!”
Após a folia no circo, a
turma voltou ao sítio para ver as notícias na TV a respeito do fim da rebelião
dos números.
DONA
BENTA:-“Que livro incrível. Este árabe sabia tantas coisas
interessantes a respeito dos números!”
EMÍLIA:-“Acho
que ninguém vai escrever um livro chamado “O sabugo que calculava” e duvido,
Du-vi-de-o-dó que o senhor Visconde resolva este problema: Um homem andando
pela rua encontrou 10 tocos de lápis. Com
cada três tocos de lápis ele forma um lápis e usa até ficar com um toco na mão.
Quantos lápis ele usou?”
VISCONDE:-“Nada
mais simples! Formou três lápis e sobrou um toco de lápis!”
EMÍLIA:-“Está
enganado! Formou cinco lápis!”
VISCONDE:-“Como?
Não é possível...”
EMÍLIA:-“Nada
mais simples! Com os dez tocos de lápis achados na rua ele formou três lápis e
consumiu-os e ficou com mais três tocos de lápis que juntados ao que sobrou deu
quatro tocos de lápis. Com esses quatro tocos de lápis formou mais um lápis e
sobrou mais um toco de lápis. Consumiu o lápis e ficou com mais um toco de
lápis e portanto ficou com dois tocos de lápis. Pediu então emprestado para um
amigo mais um toco de lápis e formou mais um lápis que consumiu. O quinto
lápis! Portanto consumiu cinco lápis! Temos aqui, portanto, cinco lápis
formados com os dez tocos de lápis achados e não três como o senhor disse! Ahn!...”
VISCONDE:-“Está
errado! Porque se ele usou este quinto lápis, sobrou um toco de lápis!”
EMÍLIA:-“Não
sobrou coisíssima nenhuma! Como havia tomado de empréstimo um toco de lápis
novo, pagou a dívida com o último toco de lápis sobrado! Ahn!...”
No meio da confusão, Emília
pegou o livro manuscrito do Visconde: “ARITMÉTICA DO VISCONDE” , cortou o T e
pôs seu nome: “ARIMETICA DO VISCONDE DA EMÍLIA”
FIM
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